quinta-feira, março 29, 2007

E ainda não é domingo

Sofro um bocadinho por antecipação. Há três anos que escrevo em blogues e foram infelizmente poucas as ocasiões que tive de mostrar gráficos demonstrativos da superioridade do Benfica (honrosa excepção feita à vitória do campeonato pelas mãos de Von Trapp). Ainda não é domingo e, neste momento, acho mesmo que o Quaresma não devia jogar. Não devia, não devia poder, não podia. Como é óbvio, esta vontade não resulta de qualquer estratégia táctica - trata-se apenas de um capricho pessoal que Jesualdo Ferreira devia ter em conta, sob pena de eu o achar insensível às minhas pequenas obstinações, coisa que deve com certeza afligi-lo imenso.

terça-feira, março 27, 2007

Recurso para o Tribunal Constitucional, já!

Quiz

O que será aquele estranho objecto que se passeia teimosamente pelos carnudos lábios de Odete?




É feio. Não é bonito.

Subitamente, uma comichão...




[ler com voz de Melga]


Por apenas 9,99€ poderá receber em sua casa uma peça íntima de lingerie igual à que Odete Santos usou na final do concurso dos Grandes Portugueses. Trata-se de uma combinação em malha de seda, que não se encontra em nenhuma casa de confecções e modas. Mas não é tudo! Por apenas mais 6,99€ receba o Kit Odete Santos, que inclui um magnífico regalo: além da preciosa combinação, faça a inveja das suas vizinhas ao ser a feliz proprietária do objecto não identificado que habitou a boca da deputada durante o programa. Poderá usá-lo nas mais diversas ocasiões, como baptizados e primeiras comunhões. Pense na cara de admiração de todos os seus amigos e vai ver que nunca se sentiu tão bem.

Mas ainda não acabou! Se telefonar nos próximos 20 minutos a encomendar o Kit Odete-Grandes Portugueses, receberá totalmente grátis em sua casa um dvd com todas as intervenções da camarada Odete na Assembleia da República, desde 1976. São 497.832 suculentas horas de discursatas políticas que você e a sua família não vão querer perder. Este dvd inclui extras com o "Making of Odete Santos", uma retrospectiva biográfica com os momentos mais importantes da vida da sua actriz preferida, desde a sua estreia nos palcos do teatro-revista até às suas palavras mais azougadas contra o regime salazarista.

Mas repare! Se for um dos primeiros dez a telefonar, receberá ainda um magnífico exemplar da Constituição Portuguesa, com o caminho para o socialismo ainda inscrito no preâmbulo, e o artigo que proíbe a propaganda ao fascismo assinalado com um post-it e a negrito.

É de se perder a cabeça! É o Kit Odete Santos! Nunca se viu nada assim!

sexta-feira, março 23, 2007

Pequena obsessão

Acontece-me ouvir um disco e a minha atenção prender-se numa música em particular. Acontece-me de seguida ouvir essa música até decorar todos os acordes, quebras de ritmo e silêncios. Neste momento, a minha pequena obsessão é a última música do último album dos Arcade Fire - "My body is a cage". Sou já capaz de orquestrar na perfeição as colunas da sala de modo a dar a entrada para as raparigas (chamo-as choir girls e tudo) que fazem os coros de "cha-la-la-la" (nome técnico), bem como reger a dinâmica do órgão de tubos e o crescendo da bateria e pratos.

Fora isto (e mais um ou outro pormenor), sou uma pessoa perfeitamente normal.

Dias de aperfeiçoamento

Quando obrigada a trabalhar sob stress intenso, uma pessoa reage e ultrapassa todos os limites de resistência. Não dorme, come pouco, alimenta-se de um soro de cafeína directamente para a veia, mostra-se irritável e pronta a explodir à mínima contrariedade.

Quando obrigada a um repouso absoluto e quase sepulcral, uma pessoa testa a sua resistência de forma semelhante. É de facto surpreendente a inesgotável capacidade que o ser humano tem de passar dias a fio sem fazer nada, aperfeiçoando e apurando a técnica a cada dia que passa. "Hoje sento-me neste sofá. Depois descanso mais um pouco na cama. Amanhã, se tiver tempo, experimento aquela cadeira." Esta sensação de dormência não é, infelizmente, eterna - rapidamente o indolente se mostra irritável e pronto a explodir à mínima contrariedade. Com a diferença de que não consegue a mais pequena nota de piedade por parte daqueles que o rodeiam, que por sua vez dariam tudo para ficar em casa a ouvir as paredes estalar por dentro.

segunda-feira, março 19, 2007

Treino para ataque à retaguarda

Não entres tão depressa nessa noite longa e escura

As hostes Portistas estão em polvorosa com o desfecho deste malogrado Conselho do CDS/PP. Não admitem que se tenha decidido convocar um Congresso. Não só não o admitem, como se dizem vítimas da tirania da direcção do partido. Acontece que existe, sim, um requerimento para a convocação de um Congresso, assinado pelos tais 1400 militantes, facto que por si só obriga automaticamente à convocação do mesmo, queira ou não queira a tropa de Portas. Os estatutos prevêm esta situação de uma maneira clara e inequívoca, e Portas - o intitucionalista Portas - deveria ser o primeiro a aceitar esta evidência.

Ao invés disso, Portas prefere adoptar uma postura beatífica perante os jornalistas, dizendo que o seu requerimento para a convocação de eleições directas reuniu a aprovação da maioria dos conselheiros do partido (mais de 60%), e que a "insistência" de Maria José Nogueira Pinto em convocar um Congresso não passa de "mau perder" e de um "amuo". Ora, há aqui de facto um problema de interpretação: a convocação de um Congresso (extraordinário) não é fruto de uma "decisão" da Presidente do Conselho (e muito menos do seu "mau perder" ou de um irresponsável "amuo"), pois - e parece que há coisas que têm que ser ditas ad nauseum - tal é instantaneamente aceite perante as mais de 1000 assinaturas dos militantes nesse sentido. São os estatutos deste partido, são os estatutos que Portas tem que respeitar.

Ainda não contente, Paulo Portas dá uma conferência de imprensa no fim deste longo dia, falando para os militantes do "seu" partido. Este sentido de posse, sem dúvida precipitado, revela infelizmente duas coisas: que Portas não se coíbe de tentar pressionar o Conselho de Jurisdição a dar-lhe um parecer favorável perante um assunto que nem merecia mais polémicas (porque os estatutos - lá está, outra vez - são claros neste ponto); que Portas já se vê como dono e senhor do castelo, uma vez que Ribeiro e Castro não apareceu desde as 3 da tarde, nem ninguém da sua lista de apoiantes. Aliás, o óbvio domínio de opiniões pró-Portas ao longo do dia em Óbidos é também um sinal inequívoco de que, em matéria de marketing político e veiculação de informações, os peões de Portas são muito mais rápidos a chegar aos órgãos de comunicação, aproveitando-se assim da não menos óbvia incompetência de Ribeiro e Castro em fazer-se ouvir e, o que é mais grave, de prever as futuras investidas do inimigo. Seria assim tão descabido prever que Portas teria sempre alguém a falar para as televisões ao longo do dia, passando informações por vezes dúbias sobre o estado de sítio que se vivia dentro daquela sala?

O mais grave, no entanto, é a manipulação dessas informações. Paulo Portas mentiu hoje perante as câmaras quando disse que a decisão da Presidente do Conselho tinha aberto uma cisão no partido, adivinhando-se por isso tempos conturbados. É preciso ter uma distintíssima e rotunda falta de carácter para vir afirmar, na pose impecável e irrepreensível que sempre se lhe conheceu, que outro que não ele é o causador da fracturante instabilidade que se gerou dentro deste pequeno partido, quando na verdade esse tem sido o seu trabalho ao longo destes dois anos de aparente "distância crítica". Acontece que o eleitorado, como Paulo Portas tanto gosta de afirmar, não é estúpido. E o eleitorado já percebeu há muito tempo que se há coisa que chateia Paulo Portas é não ter o controlo sobre o "seu" partido. O eleitorado também já percebeu que não é com intrigas, aparições súbitas e discursos repentistas que se ganha confiança e se ganham eleições. O que Paulo Portas mostrou hoje é o rumo que quer para o partido: um punhado de arrivistas sem escrúpulos e sem valores, disposto a tudo para fazer prevalecer as suas ideias, mesmo que para isso tenha que usurpar vergonhosamente a cadeira do poder. A única coisa que este punhado de arrivistas tem a seu favor é uma intermitente e fraca liderança de Ribeiro e Castro.

Com Congresso ou sem Congresso, o mais provável é que Portas e as suas hostes reconquistem a liderança deste partido, e com ela garantam o acesso aos empregos, cada vez mais escassos - porque é disso que se trata quando se trata de apoiar Paulo Portas.

Prevê-se uma noite longa e escura para o CDS/PP.

quinta-feira, março 15, 2007

Rádio Beirut


"Elephant Gun", senhores.

Leite, esse perigoso alimento

Comprar leite já não é uma tarefa tão comezinha como era em tempos. Pelo contrário, a escolha do leite pode mesmo revelar muito sobre quem o compra. Antes havia leite. Ponto. Agora, quem queira comprar o precioso néctar sente um arrepio perante a imensa prateleira de opções. E não estou a falar da decisão fácil do gordo, meio-gordo ou magro. Falo do acto de terrorismo psicológico que é ter que escolher entre o que tem vitamina B1 e B2 mas é menos rico em Omega3, por exemplo. Por outro lado, há os que são enriquecidos em cálcio (não deviam ser todos?), mas que deixam muito a desejar em termos de selénio e antioxidantes. Há ainda os que me ameaçam com doses refoçadas de zinco e eu penso se querem mesmo que eu beba litros do mesmo metal que reveste as latas de Coca-Cola. Outros há que garantem ter todos os "ácidos gordos essenciais", e quase posso jurar que ouço a risada do Chucky a sair do vil pacote.

Outro sinal dos tempos modernos é a especificidade de cada tipo de leite. Tem colesterol? Beba leite com Omega3. É gordo? Beba leite magro com fibras e BBA4 (bifidus activos). Tem crianças? Dê-lhes leite com todas as vitaminas possíveis e leve para casa um magnífico balão. As suas crianças têm menos de 2 anos? Leve este leite "especial crescimento", que tem como característica distintiva ser muito mais enjoativo que todos os outros. É monárquico? Leve o pacote azul e branco. É de direita? Leve o pacote laboral. É de esquerda? Beba leite que isso passa. Não bebe leite? Não gosta de leite? Não seja estúpido.

Francamente.

quarta-feira, março 14, 2007

O mundo divide-se

entre os que dizem «euribór» e os que dizem «euríbor».

terça-feira, março 13, 2007

Evolução

Acreditar que o ser humano não é dotado de uma bondade intrínseca é muitas vezes interpretado como uma manifestação de ausência de fé. Pelo contrário, ausência de fé seria pensar que o ser humano não podia conscientemente evoluir do Mal que lhe é inato para o Bem que lhe é revelado.

There is a war


É altura de cerrar fileiras, erguer muros e proteger a cidade. Mesmo que na cidade haja apenas uma escassa centena de habitantes para defender. Mesmo que na cidade haja apenas um habitante para defender.

quinta-feira, março 08, 2007

O optimista pessimista

Para ele, o melhor que lhe podia acontecer era não lhe acontecer absolutamente nada.

O optimista supersticioso

Acreditava que tudo ia correr a seu gosto, mas só o admitia enquanto andava ao pé coxinho.

O optimista imbecil

Quanto mais se informava sobre tudo o que poderia correr mal, mais se convencia de que tudo ia correr bem. Note-se que não estamos a falar de um mero optimista, mas de uma pessoa que faz tudo, mas mesmo tudo, para contrariar o óbvio.

terça-feira, março 06, 2007

Mínimo denominador comum

Aquilo que, numa escala subjectiva de valores, é suficiente para pôr duas pessoas a conversar noite fora sobre os seus livros e filmes preferidos, mas não o suficiente para os pôr a falar sobre si um minuto que seja.

A ordem natural das coisas

Eis o que, consoante a necessidade de cada momento, move um animal: caçar (para sobreviver), comer (para subsistir), procriar (para prolongar a espécie) e dormir (para recuperar a força).

As necessidades instintivas do homem pouco se distinguem das dos animais, a não ser que o homem caça, come, procria e dorme necessariamente por esta ordem.

quinta-feira, março 01, 2007

Not true

Não é verdade que eu tenha a mania das enumerações. Tenho é a mania das vírgulas.

True story

O mendigo aproximou-se do conhecido poeta, só que em vez de dinheiro pediu antes que lhe escrevesse uma metáfora "das boas". Vendo o ar intrigado do poeta, o pedinte explicou:

- Uma que se perceba, está a ver?

O poeta não percebeu.