Preocupo-me com ele
Ele anda cabisbaixo e tristonho. A alvura do seu generoso sorriso deu lugar a um risco fechado, tenso, acabrunhado. Já não veste fatos de riscas estridentes, gravatas de seda tingida em cores quentes. Já nem sequer o "pocket square" a condizer, que tanto alegrava as senhoras reformadas deste país, para quem aquilo não passava de um lencinho de assoar - ai o maroto, que anda sempre ranhoso - com cores garridas. A pele perdeu aquele tom Piz Buin caribenho e está agora macilenta, como a de todos os outros portugueses que só apanham sol no mês de Agosto na praia da Rocha. Onde havia verve e audácia, há agora cautela e discrição. Todo ele era fulgor, e agora apatia. Até o cabelo, outrora louro e com um ondulado de querubim, se apresenta algures entre o castanho e o púrpura, à conta de tantos ensaios artísticos e de tantas bisnagas de tinta roubadas no cabeleireiro da mãezinha. Todos os outros meninos dos outros partidos têm um amigo que os ama e que os representa nas eleições para a câmara de Lisboa. Até o Manelinho, o ex-melhor amigo dele, avançou sozinho para a corrida.
Mas Paulo Miguel continua calado, murcho, quedo, à espera que alguém lhe dê um abracinho e 4.000 assinaturas. Ajudem o Paulo Miguel. Façam brilhar de novo os dentes de Paulo Miguel. Eu preocupo-me com Paulo Miguel.
Mas Paulo Miguel continua calado, murcho, quedo, à espera que alguém lhe dê um abracinho e 4.000 assinaturas. Ajudem o Paulo Miguel. Façam brilhar de novo os dentes de Paulo Miguel. Eu preocupo-me com Paulo Miguel.
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