quinta-feira, março 02, 2006

Gente como nós

Sente-se uma certa repulsa quando uma pessoa por quem não temos grande estima intelectual revela a sua admiração por um escritor ou músico que achamos verdadeiramente bom. Alguém que tem por hábito não ter qualquer critério nas suas escolhas é alguém que gostamos de desprezar em silêncio.

Ora, quando essa mesma pessoa mostra que tem, afinal, um ponto em comum com as nossas referências literárias ou musicais, torna-se inevitável sentir que estamos perante o eterno dilema de termos que partilhar as "nossas" coisas com pessoas de quem não gostamos muito. Não é tanto uma questão de narcisismo, mas sim de posse intelectual: é mais difícil aceitar que gente diferente de nós goste de Dylan Thomas ou David Sylvian do que condescender que gente como nós (sempre por mera curiosidade e nunca por genuína devoção) se interesse vagamente por Dan Brown ou Tina Turner.