sábado, setembro 23, 2006

Como disse?

Quando acordei, já não muito de manhã, pensei comprar o SOL. Se calhar a minha primeira impressão tinha sido algo injusta. Se calhar, com o tempo, o SOL pode vir a ser um grande semanário português e uma referência do jornalismo, quiçá a nível europeu.

Com esta súbita vontade de praticar o bem e de dar uma segunda oportunidade a quem quer que seja que me tenha ofendido nos últimos 27 anos, dirigi-me ao quiosque do costume para me deparar com o dito jornal preso com molas, bem destacado no meio dos outros. E foi então que me lembrei da saudosa Fernanda Cavacas (?), que no não menos saudoso programa Acontece tinha uma pequena rubrica semanal onde se entretinha a corrigir os erros de sintaxe e ortografia que iam aparecendo em jornais ou nos discursos de políticos deste meu país. Saudades daquela mãozinha rechonchuda em concha à volta da orelha, semblante carregado de professora de geografia nos anos 60 perante a incapacidade do aluno de enumerar todos os afluentes do rio Catumbela, perguntando com horror, depois da repetição enjoativa do erro: "Como disse? Não... não... está e-rra-do. Lugela, como o menino devia saber muito bem, é um afluente do rio Licungo, em Moçambique. Correcto seria dizer, por exemplo, Cuíva ou Cubal."(*)

E qual é a relação entre Fernanda Cavacas e o semanário SOL? Passo a explicar: escancarada na primeira página estava a notícia arrasadora (a julgar pelo tamanho das letras e pelo lugar de destaque) de que "um quarto dos portugueses preferiam ser espanhóis". Como disse? Correcto seria dizer "prefere", como aliás qualquer corrector ortográfico básico do Word pode comprovar, e o prontuário também. Perante isto, esfumou-se a minha boa vontade e levei para casa apenas o Expresso. Eu e a Fernanda Cavacas, pelo menos.



(*) Informações retiradas do Wikipedia, porque eu nem os afluentes dos rios da metrópole sei de cor.