Road map - uma visão do mar
Percorrer centenas de milhas com um mapa em cima das pernas, tentando descobrir o caminho mais sossegado e mais próximo do mar, sempre em estradas labirínticas. O mapa do País de Gales era tão desconhecido como uma representação do sistema linfático do corpo humano, só que em vez de glândulas havia cidades com nomes impronunciáveis, dez consoantes contra uma só vogal, uma língua misteriosa de druidas e árvores milenares. Levava-se horas a percorrer aquilo que no mapa pareciam apenas escassos centímetros, sendo que as placas no meio da estrada tornavam a viagem ainda mais confusa.
Tenby
Em Tenby, uma cidadezinha tomada de assalto por bandos de albatrozes, velhos reformados de chapéu de palha e sapatos ortopédicos arrumavam-se nos bancos de madeira em frente à baía logo de manhã, e aí ficavam todo o dia a beber chá e a falar do império britânico no tempo da rainha Vitória, provavelmente o seu único tema de conversa desde que eram um pouco mais novos do que a rainha Vitória.
Um empregado melancólico e com o cabelo a rarear dispunha vezes sem conta as mesmas chávenas de chá de porcelana florida sobre o tabuleiro, com gestos lentos e pesados, como se a salvação do mundo dependesse da exacta simetria das colheres em relação aos guardanapos de renda branca. Soltava comentários lacónicos sobre quão quente estava o dia, entre suspiros violentos que esvaziavam por completo o seu corpo, com certeza tão bafiento e murcho como o papel de parede descolorado que cobria as paredes do salão de chá.
Hay-on-Wye
Em Hay-on-Wye, a terra que acolhe os bibliófilos compulsivos de todo o mundo com primeiras edições raríssimas, preciosidades poéticas e um nunca acabar de estantes, temas, sótãos, escadas, caves e sub-caves forradas de livros, nenhuma conta bancária sai ilesa. Era com angústia que olhava simultaneamente para o relógio e para o mapa (outro) das livrarias todas que ainda faltava visitar, que era preciso visitar.
O mais tranquilizador foi sentir que todas as milhas entretanto somadas, rente ao mar ou por entre montanhas com carneiros a perder de vista, que passar pela mesma rotunda três vezes até acertar na direcção certa, todo esse aparente desnorte foi a maneira mais encantadora de perder tempo.
Em Tenby, uma cidadezinha tomada de assalto por bandos de albatrozes, velhos reformados de chapéu de palha e sapatos ortopédicos arrumavam-se nos bancos de madeira em frente à baía logo de manhã, e aí ficavam todo o dia a beber chá e a falar do império britânico no tempo da rainha Vitória, provavelmente o seu único tema de conversa desde que eram um pouco mais novos do que a rainha Vitória.
Um empregado melancólico e com o cabelo a rarear dispunha vezes sem conta as mesmas chávenas de chá de porcelana florida sobre o tabuleiro, com gestos lentos e pesados, como se a salvação do mundo dependesse da exacta simetria das colheres em relação aos guardanapos de renda branca. Soltava comentários lacónicos sobre quão quente estava o dia, entre suspiros violentos que esvaziavam por completo o seu corpo, com certeza tão bafiento e murcho como o papel de parede descolorado que cobria as paredes do salão de chá.
Em Hay-on-Wye, a terra que acolhe os bibliófilos compulsivos de todo o mundo com primeiras edições raríssimas, preciosidades poéticas e um nunca acabar de estantes, temas, sótãos, escadas, caves e sub-caves forradas de livros, nenhuma conta bancária sai ilesa. Era com angústia que olhava simultaneamente para o relógio e para o mapa (outro) das livrarias todas que ainda faltava visitar, que era preciso visitar.
O mais tranquilizador foi sentir que todas as milhas entretanto somadas, rente ao mar ou por entre montanhas com carneiros a perder de vista, que passar pela mesma rotunda três vezes até acertar na direcção certa, todo esse aparente desnorte foi a maneira mais encantadora de perder tempo.
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