sábado, fevereiro 25, 2006

Goethe revisited

Goethe escreveu que "o mistério do homem é a mulher poder amá-lo". Hoje em dia, as pessoas podem fazer desta frase um pequeno puzzle e (por mera curiosidade lúdica) trocar a palavra "homem" por "mulher", e vice-versa. Também não há assim tantas hipóteses, afinal.

Do amor e outros estatutos terminológicos

O primeiro sinal de que o outro conquistou uma certa intimidade connosco manifesta-se quando na lista de contactos o seu nome deixa de ter apelido.

Num grau mais avançado, o outro perde as restantes letras do seu nome e passa ser apenas uma inicial, à boa maneira de Stendhal.

Mais tarde, quando a intimidade é absoluta, os recadinhos e mensagens do outro são assinadas de forma quase anónima ("deste que te ama", "daquele que nunca se esquece", "tu sabes quem").

Perante a ruptura, a desilusão ou simplesmente o desamor, o outro recupera o apelido e ganha em consistência de identidade o que perde em consistência de intimidade. A afeição é proporcionalmente inversa ao registo de nascimento.

O outro

É claro que há critérios específicos, mais ou menos razoáveis, para avaliar o outro quando nada se sabe ainda sobre ele.

No meu caso, a primeira coisa em que reparo são as mãos, o formato das unhas, os pêlos nos dedos, e por aí fora.

Só depois reparo em coisas mais óbvias, como os olhos, a boca, os sinais e as sardas, a maneira como o outro fala e escreve, ou a forma como me cumprimenta: se é desajeitado, excessivamente efusivo, se dá beijos peganhentos ou se, pelo contrário, se limita a encostar o osso da cara ou a haste fria dos óculos.

Outro critério tão válido como os anteriores é a forma como o outro pronuncia as palavras "vacina" (vácina), "alergia" (alérgia) ou - mais importante ainda - o nome "Micah P. Hinson".

O inquilino secreto

Um amigo contava-me que nunca se tinha sentido tão feliz, agora que vivia com uma mulher maravilhosa. E acrescentou, logo a seguir: "Só espero que ela nunca descubra que eu lá estou a viver."

Máxima mínima

Amar o próximo como a nós mesmos pode ser um acto de crueldade quando se sofre de fraca auto-estima.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Ora,

pelas minhas contas, foi exactamente há 27 invernos.

Pequena ressalva (2)

Não cobiçarás a mulher do próximo, a não ser que a mulher do próximo te cobice da mesma forma.

Pequena ressalva

Amarás o próximo de boa vontade, desde que o próximo não seja o teu novo vizinho punk com ar engordurado e acne até às pálpebras.

Wishful thinking

Oxalá as previsões se cumpram e neve outra vez este fim de semana.
E que eu veja tudo tão branco como da última vez que nevou em Lisboa e eu nem reparei, tão atenta que estava ao silêncio, ali mesmo ao meu lado.

Ainda sobre hereditariedade

Segundo me contaram, dei uma grande alegria ao meu Pai no dia em que saí da maternidade e espirrei três vezes seguidas quando o sol se escancarou na minha cara. Ao que parece, espirrar com o sol é uma "marca" genética indiscutível nesta família. Podia ser pior, muito pior - podia ter herdado a careca do meu avô, por exemplo.

Passa ao outro e não ao mesmo

A hereditariedade é o que sinto quando olho para os meus irmãos e penso que o que temos mesmo em comum é um certo jeito para o sarcasmo, desde que aplicado ao outro e não ao mesmo.

(dressed to) Kill thy neighbours

Os meus novos vizinhos de baixo já se queixaram do barulho dos meus passos à noite, como se eu fosse uma espécie de alma penada que percorre os corredores. Sugeriram-me até, veja-se bem, que trocasse o salto das minhas botas por qualquer coisa mais silenciosa, como umas pantufas. Além de achar a palavra "pantufas" ridícula, mais depressa usaria umas botas góticas de salto bem pontiagudo (só mesmo para provocar) do que umas miseráveis pantufas com um "robe" a condizer.

Divulgação institucional

Os Santos & Pecadores têm um novo álbum já à venda, que se chama "Acção > Reacção".

Eis um tópico que merece toda a minha atenção: há muito que o problema de coçar a micose pedia uma abordagem condigna.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Prolongamento

Falta ainda muita coisa neste blogue - um prolongamento, aliás, do que se passa comigo.

Facto consumado

Perante o facto consumado, há que não ter receio de falar sobre ele, pensar sobre ele e sobretudo ultrapassá-lo.

Facto

Escolher um nome para um blogue é mais difícil do que preencher a declaração do IRS.

O resto do poema

--tomorrow is our permanent address

and there they'll scarcely find us(if they do,
we'll move away still further:into now

Novo Mundo




Começa aqui o meu mundo novo.