terça-feira, agosto 29, 2006

Michel e Mateus

O facto de as personagens principais dos três últimos livros que li se chamarem Michel não é coincidência. É uma marca do autor. Mas o facto de a primeira palavra que ouvi nas últimas três vezes que liguei a televisão ter sido Mateus, isso já não é coincidência. É azar.

Keep it simple

Para um bebé acabado de nascer, a primeira dificuldade é tão simplesmente aprender a respirar, em dois movimentos cíclicos simples. Ninguém tem memória desse momento em que os nossos minúsculos pulmões se deixaram romper pelas primeiras moléculas de oxigénio e todo o corpo se obrigou a um reajustamento do modo de funcionar. E no entanto os bebés respiram, milagrosamente, sem que nada lhes tenha sido ensinado.

Sempre tive um horror patológico a mudanças súbitas, para mim quase sempre indesejáveis. O homem é um animal de hábitos e eu sou particularmente afecta a hábitos, rotinas, costumes, tradições ou qualquer outro sistema de encadeamento de actos, uns mais triviais que outros, desde que me sejam familiares. Perante a necessidade imperativa de mudar (de mudar bruscamente, entenda-se), apetece-me complicar. Duvido, questiono, penso desistir, culpo alguém, enfim. Esqueço-me, em suma, de que pode não ser complicado. Pode, aliás, ser tão simples como respirar.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Vamos ver as maminhas da Patrícia Tavares

Está escrito em letras gordas na capa de um jornal português. Nos quiosques, tabacarias, papelarias, escaparates, por todo o lado, deixando as rubicundas criaturas mais sensíveis a este tema algures entre a culpa e a baba. A frase é de Teresa Guilherme, que não se mostra muito interessada em dar uma opinião sobre o debate Con vs. Neo-Con, e obviamente nunca leu Ignác Acsády (eu também não). O que Teresa Guilherme quer mesmo é informar o caro telespectador de que em breve poderá ver todos os milímetros das maminhas (atenção ao diminutivo) da Patrícia Tavares, porque sabe que neste país andam todos à mama. Obrigada, Teresa.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Melancómico - parte II

O proletário que prefere ler Ana+Atrevida na casa de banho do que Kierkegaard no café do senhor Abílio - Nuno Costa Santos, no botequim do costume.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Drowning




Daniel's saving Grace
She's out in deep water
hope he's a good swimmer



James - Getting Away With It (All Messed Up)

Polaroids

Na fúria das arrumações, patologia grave que se me acomete de quando em vez, encontro fotografias não muito antigas de amigos que entretanto se juntaram, ou casaram, tiveram filhos ou tudo em simultâneo. Se antes a angústia era tentar que a mesada desse para pagar as bebedeiras e jantaradas até ao fim do mês de férias de verão, agora as preocupações giram à volta das crianças e do precário equilíbrio das relações conjugais. Fraldas, afectos e testes da Cosmopolitan, é disso que os dias se ocupam.

Hoje, não sei porquê, lembrei-me do Vasco Lourenço

Pensar numa alcunha para alguém que conheço é um exercício ao qual me dedico com mais ou menos afinco, mas nunca consegui chegar ao apuro de Manuel Portugal, que se referia a Vasco Lourenço como "Dom Lourençote de Melenas e Pá". Genial.

terça-feira, agosto 01, 2006

All families are psychotic

Em todas as famílias há episódios que dariam um enredo rocambolesco para um filme do Woody Allen, desde as obsessões mais ou menos subliminares de cada um às idiossincrasias comuns a todos.

A família cria os seus hábitos, as suas rotinas, as suas private jokes, e qualquer desvio a essas normas é geralmente visto como uma traição ao clã. Frases como "sempre foi assim" ou "é costume nesta casa fazer-se isto" referem-se a tradições que, mesmo não sendo originais, são as tradições específicas daquela família. As situações de desconforto surgem quando alguém sugere a mudança de um hábito ou decide revelar algo incómodo. Mas a família não lida bem com esse tipo de revelações, pois elas sugerem, antes de mais, uma brecha na fortaleza, um ponto de ruptura na unanimidade.

A existência de segredos é, pois, necessária para garantir as tradições de uma família. Uma família sem segredos não é uma família: é, quanto muito, uma comunidade de hippies. E todas as famílias são psicóticas porque em todas as famílias há segredos.