Para um bebé acabado de nascer, a primeira dificuldade é tão simplesmente aprender a respirar, em dois movimentos cíclicos simples. Ninguém tem memória desse momento em que os nossos minúsculos pulmões se deixaram romper pelas primeiras moléculas de oxigénio e todo o corpo se obrigou a um reajustamento do modo de funcionar. E no entanto os bebés respiram, milagrosamente, sem que nada lhes tenha sido ensinado.
Sempre tive um horror patológico a mudanças súbitas, para mim quase sempre indesejáveis. O homem é um animal de hábitos e eu sou particularmente afecta a hábitos, rotinas, costumes, tradições ou qualquer outro sistema de encadeamento de actos, uns mais triviais que outros, desde que me sejam familiares. Perante a necessidade imperativa de mudar (de mudar bruscamente, entenda-se), apetece-me complicar. Duvido, questiono, penso desistir, culpo alguém, enfim. Esqueço-me, em suma, de que
pode não ser complicado. Pode, aliás, ser tão simples como respirar.