quinta-feira, maio 31, 2007

10h09

Às 10h09 desta manhã, ela estava a fechar um negócio importantíssimo com uns japoneses, ele estava a passar precisamente por baixo da porta 'Arbeit Macht Frei' em Auschwitz, ela fazia uma encomenda num site gótico, ele estava ainda a decidir se ia ou não trabalhar hoje, ela estava a entornar café por cima do vestido e a pensar que hoje ao almoço ia encomendar uma pizza, ele estava a bater uma na casa de banho do escritório, ela olhava-se ao espelho e pensava se já estaria pronta para deixar de usar a cabeleira que escondia o efeito napalm da quimioterapia, ele jogava gamão na internet com um russo, ela relia as mensagens que ele lhe mandara nos últimos meses e tentava (em vão) perceber o que tinha corrido mal, ele achou que era uma boa altura para inaugurar a sua dieta e começava a subir a pé os quatro andares de escadas, ela baixava-se para apertar de novo a presilha das sandálias, ele estava a ter uma embolia cerebral e depois não fez mais nada.

terça-feira, maio 29, 2007

Tempus fugit

Ter "quality time" não é ter imenso tempo para fazer aquilo que sempre quis, mas sim fazer exactamente aquilo que quero quando não devia.

domingo, maio 27, 2007

NS/NR

sábado, maio 26, 2007

Bloguito Ergo Sum (2)

Vou sabendo dos meus amigos pelos seus blogues. Quando eles passam muito tempo sem escrever, sei que estão bem porque estão ocupados. Quando escrevem em abundância, sei que estão bem porque se dedicam com afinco a qualquer coisa. Quando os posts começam a ser irregulares, espaçados, erráticos, fico preocupada e telefono-lhes, indignada, só para saber se há alguma razão válida para abandonarem os seus blogues, ou se o fizeram por dá cá aquela palha.

Bloguito Ergo Sum (1)

E passo a citar: "Não preciso da religião. Tenho um blogue."

quinta-feira, maio 24, 2007

O Quase

Santana Lopes falou à comunicação social para dizer que quase se candidatou à câmara de Lisboa. A ideia passou-lhe pela cabeça, mas não se concretizou. Não tentou sequer, mas pensou nisso. Esteve lá perto. Houve um ameaço. Faltou-lhe um bocadinho assim. Um cagagésimo mais e tinha sido. Podia ter-se candidatado? Podia. Porquê? Porque sim. E candidatou-se? Não. Porquê? Porque não. Mas foi quase.

Depois de Vitalino Canas, com os comunicados a dizer que não tinha nada para dizer, temos Santana, o Quase Lopes.

terça-feira, maio 22, 2007

A crença errónea

G. tem uma capacidade inesgotável de ser patético e incoveniente. Nos raros momentos em que se apercebe disso, o que anima G. é pensar que a sua vida poderá servir um qualquer propósito literário (G. tem amigos que escrevem livros) ou cinematográfico (G. já importunou vários realizadores enquanto almoçavam em esplanadas, falando profusamente sobre as suas demências e debilidades). G. é homem de uma só crença - a errónea.

Ressalvas

Ele queria continuar a estar com ela sempre que lhe apetecesse, mas não queria assumir um compromisso - o que, para ela, era mais ou menos o mesmo que querer estar mais perto de Deus, mas com a ressalva de não ter que acreditar na religião.

quinta-feira, maio 17, 2007

Flávio não reúne as condições necessárias

Flávio queria muito ser candidato à presidência da câmara de Lisboa, mas ainda não conseguira ser arguido em nenhum processo.

Preocupo-me com ele

Ele anda cabisbaixo e tristonho. A alvura do seu generoso sorriso deu lugar a um risco fechado, tenso, acabrunhado. Já não veste fatos de riscas estridentes, gravatas de seda tingida em cores quentes. Já nem sequer o "pocket square" a condizer, que tanto alegrava as senhoras reformadas deste país, para quem aquilo não passava de um lencinho de assoar - ai o maroto, que anda sempre ranhoso - com cores garridas. A pele perdeu aquele tom Piz Buin caribenho e está agora macilenta, como a de todos os outros portugueses que só apanham sol no mês de Agosto na praia da Rocha. Onde havia verve e audácia, há agora cautela e discrição. Todo ele era fulgor, e agora apatia. Até o cabelo, outrora louro e com um ondulado de querubim, se apresenta algures entre o castanho e o púrpura, à conta de tantos ensaios artísticos e de tantas bisnagas de tinta roubadas no cabeleireiro da mãezinha. Todos os outros meninos dos outros partidos têm um amigo que os ama e que os representa nas eleições para a câmara de Lisboa. Até o Manelinho, o ex-melhor amigo dele, avançou sozinho para a corrida.

Mas Paulo Miguel continua calado, murcho, quedo, à espera que alguém lhe dê um abracinho e 4.000 assinaturas. Ajudem o Paulo Miguel. Façam brilhar de novo os dentes de Paulo Miguel. Eu preocupo-me com Paulo Miguel.

terça-feira, maio 15, 2007

Liaisons dangereuses (2)

Ela gostava das coisas simples da vida, mas ele não era uma delas.

Liaisons dangereuses

Ele tinha desistido da vida. Agora só lhe faltava encontrar uma mulher que tivesse feito o mesmo.

segunda-feira, maio 14, 2007

Há dias em que apetece um pouco de bom senso

E um bom exemplo de bom senso (e subtileza, já agora) estava hoje no centro de saúde, à porta do gabinete de planeamento familiar, onde num poster gigante se apresentavam dois jovens abraçados, ele com as mãos nos bolsos de trás das calças dela (go figure). Em letras garrafais lia-se: "Conhece aqui os métodos de contracepção. Mas podes sempre preferir a ABSTINÊNCIA". Assim mesmo. Com um «conhece» e um «podes».

sexta-feira, maio 11, 2007

Um bocadinho como o Marcelo Rebelo de Sousa

O viajante é aquele que se anima com o que ainda não viu, que se deslumbra com o que vê e que se regozija de ter visto.

E no entanto vai-se

É sempre estranho ir pela primeira vez com alguém que está a voltar.

quinta-feira, maio 10, 2007

Coisas que me comovem

- Imaginar o sorriso de mosca gigante na cara de Manuel Monteiro por ter metade dos deputados que tem Paulo Portas na Madeira.

- Pensar que Manuel Monteiro acha mesmo que este é um "ponto de viragem" para o PND e que os resultados eleitorais na Madeira são apenas a "plataforma de lançamento" para conseguir eleger-se deputado por Lisboa daqui a dois anos. Pensar que Manuel Monteiro podia usar expressões como "ponto de viragem" e "plataforma de lançamento" sem que isso parecesse estranho no resto do seu discurso.

- João Soares e o frenético acenar de braços para que o PS o nomeie candidato à câmara de Lisboa. Todo ele se dobra até ao chão para mostrar a sua eterna e sincera disponibilidade para encabeçar mais esta jornada eleitoral. Todo ele transpirando e faiscando o desejo ardente de que alguém repare nele. Desespero só comparável ao de Jardel a fazer olhinhos de Bambi a todos os clubes de Portugal que já o expulsaram, renegaram, repudiaram ou que nunca o quiseram.

- O Sargento Luís é surpreendido com a notícia da sua libertação e profere umas palavras de alívio por ter sido posto de novo em liberdade. Algures do canto esquerdo anterior da câmara ouve-se um bêbedo com a voz trôpega de Vasco Santana no discurso de formatura, berrando num misto de nostalgia e tosse convulsa: "Viv'a Liberdade!"

- Viva.