O semanário SOL custa dois euros e o seu editor anuncia, ufano, que tem muito mais páginas do que era previsto dada a procura "inesperada" de publicidade. É pena. Teria ficado satisfeita se o novo semanário se reduzisse ao relato da semana do avô Marcelo Rebelo de Sousa e dos seus netos, o Francisquinho e a Teresinha (pp. 94 e 95), às posições e travessuras da Margarida Rebelo Pinto (p. 64), que põe a sua sabedoria ao nosso dispor, tanto na área do erotismo como na divulgação de factos históricos surpreendentes ("Infante D. Henrique - [que] segundo as más-línguas da época, era
gay"), e por fim à revitalizante página dedicada a
gadgets e jogos electrónicos (pp. 88 e 89), com especial destaque para o jogo que tem como protagonista Cristiano Ronaldo, a braços com a ameaça de "esqueletos que surgem no meio do campo quando menos se espera, 'trolls' que criam lençóis de gelo ou ninfas demoníacas que seduzem os adversários".
Vi o sr. Isaltino na televisão muito indigando com a notícia de capa deste jornal, mas desde já me parece que essa, a ser verdadeira, será a única notícia realmente fresca deste semanário. Claro que por dois euros não se pode pedir mais. Um jornal que, aliás, faz questão de avisar os leitores mais incautos que "não oferece brindes nem faz promoções", oferece em contrapartida uma inovadora sondagem sobre os melhores e piores presidentes e primeiros-ministros deste país (pp.20 e 21), sondagem esta onde o Professor Doutor Oliveira Salazar recolhe apenas 5% dos votos no
ranking dos melhores, enquanto que o Engenheiro António Guterres consegue a medalha de bronze com 13,4%. Jornalismo "acutilante", "profundo" e "não propagandístico"? Certamente.
E o que dizer, então, da entrevista da Filomena Mónica, logo na segunda página, onde a socióloga tece comentários sobre a compleição física de figuras políticas proeminentes? As setas do Cupido Mónica acertam em cheio: Mário Soares "tem ar de folgazão, de quem teve inúmeras amantes [mas] não me irrita porque não é hipócrita"; Cavaco Silva é "limitado" porque, pasme-se, "gosta da mulher, dos filhos e da vida que tem". Filomena Mónica, pelo contrário, é ilimitada nos reparos que faz a Santana Lopes: "Com 50 [anos], Santana deveria ter aguma maturidade emocional e sexual que obviamente não tem". Já a socióloga, com 63, pauta-se por uma discrição comovente e digna na sua autobiografia.
Por fim, e usando a terminologia científica do novo Paulo Portas (agora na versão Lauro António), o novo semanário SOL é "do caraças".