quinta-feira, novembro 30, 2006

Manual de estilo

"Growing old" é uma redundância necessária.

Wishful thinking

90 anos e numa espécie de coma inquieto há mais de dois. Até que um dia abriu os olhos e perguntou se o Avô já tinha voltado para jantar.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Statler e Waldorf

Esqueçam Sócrates, João Kléber, Floribella, Odete Santos, Rui Santos, Maria de Lurdes Rodrigues ou o Emplastro. As "figuras públicas" que mais tempo de antena têm nos canais portugueses são Carvalho da Silva, da CGTP, e João Proença, da UGT. É que não passa um dia sem que estes dois marretas nos macem com queixinhas, protestos e "denúncias". Não há pachorra.

Picuinhices

Não deixa de ser curiosa a forma como os rapazes do Blasfémias conseguiram linkar o novíssimo, extraordinário e realmente high-tech 31 da Armada, sem no entanto o destacarem demasiado. Note-se que, começando o nome do blogue por um numeral, os blasfemos remeteram-no para "trinta" e 1 da Armada na sua lista alfabética de blogues. Podia ser coerente, mas não é - caso contrário, como explicar que o blogue 19 Meses Depois não esteja em "dezanove" & etc.?

Mau génio? Distracção? Boicote? Vejam lá isso, senhores.

quinta-feira, novembro 23, 2006

As circunstâncias e eu

De maneira que as hipóteses eram estas: ver o jogo do Porto, ver o jogo do Benfica, trabalhar pela noite fora (sim, acontece-me de vez em quando), todas as anteriores em simultâneo ou ir ao concerto da Diamanda Galás no CCB. Vejo-me obrigada a escolher a última, por força do homem e das suas circunstâncias, e deparo-me com uma fauna absolutamente deprimente: os góticos e as góticas de Portugal são os góticos e as góticas mais nheca-nheca que já vi.

Não basta vestir-se de preto das olheiras às unhas dos pés para se ser gótico. Os góticos não se chamam "Olga" ou "Rui Luís", não usam no mesmo pulso relógios Swatch e pulseiras ouriçadas, não vão a concertos com uma filha de 14 anos e um marido que é parecido com o Clint Eastwood. E no entanto lá estavam eles, os morceguinhos da Venda Nova, os habitantes das ruas que se chamam ruas-projectadas-à-praceta-dos-capitães-de-abril, os góticos portugueses em bandos de três corvos com ar pingado e macilento. Eles e António Fagundes, vá-se lá saber porquê, António Fagundes e uma mulher igual ao Antony (sem os Johnsons), uma Antony-a e eu.

Nessa noite, Diamanda Galás uniu-me a todas estas criaturas durante pouco mais de uma hora. Foi absolutamente magnífico e aterrador ouvir aquela voz fantasmagórica de quatro oitavas a assombrar Edith Piaf, George Delarue, Jacques Prevert/Morrissey/Siouxsie Sioux e Peggy Lee no mesmo labirinto de contínuo sostenuto (passe a redundância), com uma técnica tão perfeita quanto surreal, entre o arrepio de quem percebe que está a ouvir algo sobrehumano e o arrepio de quem já não aguenta nem mais um segundo sob pena de partir o cristal da pele, dos ouvidos, do coração.

No fim do concerto (demasiado curto) vi-me de volta à plateia de góticos lúgubre-kitsch e só me restou ir para casa, pensar naquele interlúdio e agradecer, agradecer infinitamente às circunstâncias.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Post anacrónico

À boa maneira queirosiana, o vilipêndio não é uma afronta temível se for realizado com elegância. Acrescente-se que, a vilipendiar alguém, nada mais elegante do que referir o nome do visado com todas as letras, apelidos e pergaminhos. Mais do que uma questão de clareza, é sobretudo uma questão de etiqueta.

Na verdade já pouca coisa me maça na blogosfera, mas não tenho muita paciência para recadinhos elípticos. Sinceramente.

"Quando é que mudas a música no teu blog?"



Agora mesmo. A música chama-se "Seventy-four, seventy-five" (não confundir com aquela lamechice pessonhenta dos Mike & the Mechanics) e está no último álbum dos Shearwater - Palo Santo (não confundir com Paulo Santos, o guarda-redes do Sporting de Braga). Sem dúvida, um dos álbuns do ano.

sábado, novembro 18, 2006

Já sei

segunda-feira, novembro 13, 2006

Literatura (quando) comparada

"I wish I knew that woman's name,
So, when she comes this way,
To hold my life, and hold my ears,
For fear I hear her say

She's 'sorry I am dead,' again,
Just when the grave and I
Have sobbed ourselves almost to sleep, -
Our only lullaby."

Emily Dickinson, I Wish I Knew That Woman's Name




"And, Emily - I saw you last night by the river
I dreamed you were skipping little stones across the surface of the water
Frowning at the angle where they were lost, and slipped under forever,
In a mud-cloud, mica-spangled, like the sky'd been breathing on a mirror

Anyhow - I sat by your side, by the water
You taught me the names of the stars overhead that I wrote down in my ledger
Though all I knew of the rote universe were those pleiades loosed in december

I promised you I‘d set them to verse so I'd always remember"



Joanna Newsom, Emily

Parafraseando Lobo Antunes (ii)

Alberto João Jardim é o Zé Carlos Malato da política.

Lamentavelmente, não se prevê um fim imediato para qualquer um deles.

Parafraseando Lobo Antunes

Emily Dickinson é a Joanna Newsom da poesia.

Citando Lobo Antunes

«Luís de Camões é o António Lobo Antunes da poesia.»

quinta-feira, novembro 09, 2006

Ensino básico, literalmente

«Romance - história de amor entre duas pessoas, do mesmo sexo ou não, em que depois de muitas traições acabam por casar ou mesmo viver juntos.»

[Resposta de um aluno, devidamente não identificado.]


Como avaliar esta definição?

1. O aluno não compreendeu a diferença entre "romance" e um enredo de telenovela.

- A resposta está errada, obviamente.

2. O aluno mostra uma extraordinária abertura no que diz respeito à complexidade inerente ao envolvimento amoroso entre duas pessoas, não descriminando as mesmas devido à sua orientação sexual.

3. O aluno faz um juízo valorativo entre o casamento e a união de facto, sobrepondo a última ao primeiro, ao mesmo tempo que utiliza uma expressão enfática de nível superior para o grau de escolaridade que frequenta.

4. O aluno demonstra que duas pessoas podem sobreviver a traições (de parte a parte) e que daí pode até resultar o perfeito entendimento e compreensão necessários ao equilíbrio e estabilidade de uma relação. Fica, no entanto, em aberto se isso é suficiente para garantir o sucesso duradouro da mesma, mas de facto não se pode exigir tanto.

- A resposta, ainda assim, está errada.

5. Mas as vírgulas estão no sítio certo.



Às vezes pergunto-me se vale a pena o esforço.

Um post com a palavra "nutri"

Sempre nutri uma enorme desconfiança por livros, compêndios e sebentas que pretendem resumir séculos de história, de literatura ou toda uma obra em poucas páginas. Além do mais, não percebo como pode um movimento literário tão complexo como o Romantismo, por exemplo, ser explicado em algumas dezenas de folhas, com fotografias e tudo. Alguns colegas meus na faculdade recorriam a esses "apontamentos" de forma sistemática, para evitar a "chatice" de ter que ler os originais. Uma maçada, realmente. Estas enormes ajudas para "académicos" parecem-me, no fundo, um panfleto para preguiçosos - um grande azar, pois na verdade de panfletária tenho muito pouco.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Anestesia geral

A maioria das pessoas que conheço, ou que vou ouvindo e lendo, ficam em pânico quando alguém lhes pergunta a sua opinião sobre determinado assunto, por mais prosaico que seja. Repare-se na forma eufemística como tanta gente avalia um tema hoje em dia, preferindo dizer "Não desgosto de", "Não acho mal", "Não me parece muito errado", "Não é completamente correcto", "Não sou totalmente a favor", "Não concordo inteiramente com", e por aí fora.

Em todas estas expressões, o advérbio de negação que inicia, triunfante, o discurso daquele a quem é pedida uma opinião, funciona como uma armadura contra o "perigo" da assertividade. E depois os advérbios relativizantes, cuja única função é minimizar os "estragos" e impedir uma vinculação total com aquilo que, a medo, na verdade se quer mesmo afirmar. Imagine-se o diálogo posterior:


- Mas você não disse que era contra?
- Não, se reparar bem, o que eu disse é que não era totalmente a favor, o que é bem diferente.
- Ah, com certeza. Então estamos de acordo.


O problema de se usar expressões "neutras" não é o barroco das expressões em si, mas o facto de essa neutralidade ser sinónima de uma necessidade absurda de não ofender ninguém, isto é, de se ser políticamente correcto em todas as frentes. Ora, quando se emite uma opinião - sobretudo em questões determinantes - é bom sinal que alguém se ofenda, pois essa é a maior evidência de que a nossa opinião, além de claramente expressa, foi entendida como uma posição clara, uma manifestação de valores e ideologias que nos definem. E é isso, afinal, que fazem os opositores quando se deparam com alguém que não soube defender o seu lado da barricada com lucidez e determinação: arrasam vorazmente os delicados adverbiozinhos e as boas intenções do adversário.

Assim, a abolição do politicamente correcto como analgésico contra futuras controvérsias é absolutamente vital. Ao dizer de forma honesta e vincada que "sou contra", "acho bem" ou "está errado", espero reacções, contraditórios, discussões pertinentes e inflamações epidérmicas. Sem relativismos, sem escudos, sem anestesias.

Causas linguísticas

Expressões a abolir rapidamente: "tenho para mim que", "é uma hipocrisia" (com o a sílaba "po" bem aberta e dita em jeito de estalo) e "Fátima Campos Ferreira vestida por Fátima Lopes". Por uma questão de sanidade pública.